TOP 10 - Os melhores e mais bem desenvolvidos temas em quadrilhas juninas

Nosso São João sofreu uma grande reviravolta. Considero que a grande revolução veio mesmo a partir do ano 2000, onde as quadrilhas passaram a buscar novos atrativos para encher os olhos do público. A vontade de sair da mesmice, do tradicional muitas vezes considerado cansativo, fez de alguns grupos os precursores dessa estilização excessiva. Isso é bom? Sim, é uma forma de deixar as apresentações mais bonitas e chamativas, mas em contra-partida, muita gente não soube usar dessa evolução e acabou percorrendo caminhos errôneos. Tem quadrilhas literalmente "viajando" e usando de temas que em nada tem a ver com a nossa tradição. É proibido? De forma alguma. Mas pode? Poder, pode! Mas se torna motivo de piada e chacota, muitas vezes até entre brincantes do próprio grupo. 
Mas também vimos durante esse tempo temas maravilhosos, belos, criativos, altamente bem trabalhados, enchendo de orgulho aqueles que são apaixonados pela tradição. Dá para inovar? Sim, mas sem perder o foco.
Vamos ver a seguir os dez melhores temas já apresentados no São João cearense, na minha opinião(em ordem aleatória):

CHEIRO DE TERRA 2010 (Redes e rendas)

Na minha opinião, nunca na história do nosso São João houve tema mais lindamente trabalhado. Eu vi esse grupo três vezes e nas três vezes eu chorei. Tenho o dvd do cearense, já devo ter visto mais de quinze vezes e sempre, sempre mesmo, me emociono. Por vários fatores que agora explicarei: Existe algo mais regional, mais nosso do que a rede? Lembro que quando minha irmã foi morar no Rio de Janeiro, ela levou uma rede, mas chegando lá viu que não tinha armadores. E sabe o que ela fez? Levou armadores aqui do Ceará e mandou instalar. Isso é da nossa cultura, assim como as rendas que enfeitam nossos enxovais quando ainda somos bebês. Enfim , essa junção foi perfeita! O tema estava presente em tudo. O figurino era composto por tecido de rede, aquela rendinha que faz as varandas, e até porta-copos com crochê no vestido da rainha. A coreografia tradicional e bem marcada abusava do tema como um excelente meio de se fazer formações, como a montanha-russa usando-se redes num lindo efeito ou o mastro com armadores naquela estrutura final. A música tema soava aos ouvidos "Vou deitar na rede e sonhar os sonhos dela, e trazer mulher rendeira pra rendar na passarela"... Lindo lindo lindo! Era tudo simples, sem um pinguinho de brilho, mas algo que ao mesmo mesmo era pequenino e gigantesco de tão emocionante! Encerro esse resumo dessa linda quadrilha com a frase mostrada pelos brincantes em painéis: "DAS TRAMAS DA VIDA, EMBALADOS NAS REDES CEARENSES". 

PAIXÃO NORDESTINA 2009 (Fábrica Junina)

A Paixão Nordestina provou esse ano que dá para usar temas criativos, exóticos, que não tenham ligação com nossas raízes, mas que mesmo assim se interligue com o São João. A idéia de uma fábrica onde os brincantes são "confeccionados", digamos assim, é muito boa! Lembro da coreografia de entrada, onde operários usavam ferramentas para fazer consertos nos meninos, muito bem bolada! Lembro que existiam umas estruturas de onde os brincantes saíam, que tinham peças de engrenagem que se moviam, dando assim a impressão de máquinas funcionando, muito criativo! O regional vinha todo caracterizado, todos de capacete e macacão de operário. Enfim, a paixão trouxe o brilho, o glamour e a elegância que todos querem, sem exagerar! Tudo na medida certa! tanto que tiveram excelentes resultados. O figurino acho que era do Irê, com as flores em garrafa pet em auto-relevo. O modelo das mangas das meninas inspirou vários outros figurinos, que criaram coragem de ousar depois disso. Gostei muito!

PEGANDO FOGO 2004 (São João Criança)

Esse ano tive oportunidade de vê-los em Icapuí. Que lindo espetáculo! Não lembro de muitos detalhes, apenas o bastante para achar esse tema muito bom, afinal, a infância é a melhor época da nossa vida. Quem não brincava de pega-pega, amarelinha, pique esconde, etc? E essa pureza da criança foi muito bem passada por essa quadrilha esse ano. O figurino era um destaque à parte. Nas meninas, sapatos carinha de bebê, vestidos que pareciam de bonecas, meia cheias de babadinhos e o cabelos feito duas maria-chiquinhas. Recordo-me que o casamento era bem bolado, os noivos apaixonavam-se quando eram crianças, e se encontravam brincando, ela com sua boneca e ele com um carrinho, se não me engano. Ela ia morar fora, e voltava já mocinha para casar com ele. O mais legal de todo o casamento é que criaram uma "cuca", personagem que tanto temos medo quando somos pequenos. Muito engraçado! A abertura da quadrilha apresentava uma grande ciranda, enfim, esse foi, para mim, um dos melhores anos da Pegando Fogo!

ESTRELA BRANCA 2009 (São Saruê ou Siriará)

Eu particularmente achei esse tema muito criativo, apesar de ter bastante gente que não sabe do que se trata. Lembro-me que Cláudio Chuppil, idealizador do projeto comentou que foi pedir justificativas a um jurado que tinha dados várias notas baixas ao grupo. A justificativa foi a seguinte: "São Saruê nem é um santo junino". Meu Deus! Se a pessoa não sabe do que se trata algo, fique calado. Mas enfim, vou resumir um pouco o tema: São Saruê é uma terra imaginária, do lendário popular. Ela é perfeitamente descrita no poema Viajem a São Saruê de Manoel Camilo dos Santos. Lá, os rios são de leite, as pedras de queijo e rapadura, sapatos e chapéus dão nas plantações, enfim, é algo riquíssimo! Tudo esse ano na estrela branca era lindo, desde o figurino muito simples, mas de lindo efeito até a coreografia que é uma das mais bem boladas que já vi. Amava como a quadrilha formava diversas figuras, das mais variadas em tão pouco tempo. Tinha apenas 16 pares, e dava um banho em quadrilhas de 40. Em determinado momento, todos os brincantes literalmente entram em São Saruê, fazendo o espetáculo ficar cada vez mais rico. Lindo e criativo!

SÃO JOÃO BATISTA 2006 (O encanto das águas)

Como não citar a minha amada quadrilha, campeã cearense desse ano? Como não citar um tema tão perfeitamente trabalhado? O encanto das águas retratava a transformação, por assim dizer, que a água é capaz de fazer na vida das pessoas. Todos somos dependentes de água, não é mesmo? E a leveza desse componente da natureza se fazia presente em tudo. Esses temas ricos tão bem trabalhados são típicos de Raimundo Claudino, um dos maiores mestres do nosso São João. Acho que poucas vezes um figurino herdou tantos elementos temáticos como esse: A começar pelos vestidos das meninas, todos com as barras azúis, detalhes em redinha de tela, sapatos de pele de boto e bijuterias de pérolas, além, claro, das aplicações de chitão. O marcador, melhor do Ceará aquele ano, personificava um pescador, e trazia em suas costas uma rede que ele mesmo trançava na coreografia de entrada. Os movimentos simulando ondas do mar em vários momentos do espetáculo, inclusive no desfile da rainha, nos deixavam no clima, até um grande barco ao final abrir sua proa, de onde saiam as meninas. A abertura, com dois casais realizando uma dança contemporânea foi criticada por muitos, mas a música usada juntamente com os movimentos davam o recado da espera desse bem tão precioso. Enfim, mostrou a que veio e arrastou tudo por onde passou! Me orgulho de ter feito parte desse ano iluminado!

JUNINA BABAÇU 2011 (100 de Juazeiro)

Um ano perfeito da babaçu! Com tantos detalhes ricos e bem trabalhados que eu me estenderia por horas. A quadrilha estilizada apresentou elementos bem tradicionais, trazendo para o público um lindo espetáculo. Tudo foi muito bem pensado, desde o horto, ponto turístico da cidade retratado em forma de um Padre Cícero gigante, até as romarias de fé e o reisado. O desfile da rainha no meio do reisado era impactante. O regional usava de batidas perfeitas para que nos sentíssemos no clima regional. O figurino foi um show à parte, mais um trabalho espetacular do Irê, trabalhado com muitas fitas(todo mundo usa fitas, mas nem todos sabem como fazê-lo de forma criativa), pouco brilho, mas muito impacto! A bijuteria das meninas era um terço. Não podemos deixar de ressaltar os paus-de-arara. Enfim, a Junina babaçu trabalha temas muito bem e Tácio, como idealizador, merece todos os méritos! Já em seu primeiro ano de retorno, a babaçu ganhou credibilidade e alguns dos festivais mais importantes de nosso estado!

ARRAIÁ DO PATATIVA 2011 (Um saboroso doce do sertão animando as noites de São João)

Qual é o doce, qual é??????? Quem respondeu rapadura acertou! E eu simplesmente amei esse tema e a forma como a Patativa o trabalhou. Fiquei meio em dúvida no início sobre o figurino. Vou explicar: Os meninos vinham caracterizados de agricultores e tal, de botas, com chapéu e aquele paninho que os mesmo usam na cabeça, mas indo de encontro com a tradição, ninguém iria a uma festa de casamento do jeito que chegou do trabalho, mas enfim, aceitando a evolução e o fato de que as quadrilhas tornaram-se espetáculos, isso torna-se aceitável. Mas o que mais me chamou a atenção foi como a quadrilha mostrou durante todo o tempo as etapas da fabricação da rapadura, desde a colheita da cana, as moendas, os tachos(que eram formados pelos brincantes, inclusive simulando o movimento do mexido), os alfinins e a rapadura sendo desenformada. Perfeito! Conseguiram mostrar o passo a passo, fazendo-se entender até pelos leigos. Ao final, os meninos passeiam com uma rapadura gigante, a mesma rapadura "produzida" por eles durante a quadrilha. Criativo demais!!!! Amei!

CHEIRO DE TERRA 2012 (Os coronéis da cera)

A campeã dos bons temas é a Cheiro de Terra! Sempre nos traz temas regionais e trabalhados como devem ser, em tudo, desde repertório ao figurino. Não cheguei a vê-los pessoalmente esse ano, mas pesquisei bastante e vi muitos vídeos, elegendo esse tema também como um dos dez melhores já feitos.

O figurino é maravilhoso, com muitos detalhes em palha de carnaúba, como no corpo e na saia dos vestidos das meninas e até nas abas dos chapéus dos homens, além do chitão que já se tornou identidade desse grupo. Em diversos momentos foram usados elementos de cena feitos de palha de carnaúba, como esses leques da meninas na foto, fazendo formações e movimentos com efeito dominó.  Ao final, a formação de uma pássaro, baseado na "canção do exílio"ajudando a identificar bem as características. Eu não sabia que a Cheiro de terra já tinha mostrado esse tema em 2009, mas perceberam que poderiam fazê-lo de forma mais aprofundada e deu mais que certo! Tudo foi baseado na época do coronelismo do nosso estado, com grandes referências também ao nosso artesanato local. Vou ressaltar também a formação da apresentação dos noivos e rainha, muito lindo! Acho que a quadrilha representou lindamente nosso Ceará nas duas vezes em que a mesma foi ao Nordestão. Torci muito por eles e acho que quadrilha nenhuma mostra nossa cultura de forma tão simples e bela. Adorei!!!

TONGIL 2010 (Os pássaros que o poeta cantou)

Eu gosto bastante da Tongil. Acho que é uma quadrilha original, animada e que dança seu São João por prazer. Sempre simpatizei com eles! Mas vamos ao tema! Nunca tinha visto nenhuma quadrilha abordar esse tema "pássaros", e eles inspiraram-se nas composições de Luiz Gonzaga. Junção perfeita! Cada casal representava um pássaro, dos mais diversos, e os mesmos traziam na abertura uma espécie de banner mostrando quem estavam representando. Nos figurinos também se via o tema: O casal que trazia o banner da andorinha, por exemplo, tinha uma andorinha em sua roupa, além de "peninhas" enfeitando a saia das meninas. A quadrilha saía de dentro de uma pássaro gigante, que batia as asas e também em um determinado momento os brincantes realizavam uma coreografia fugindo do Carcará.

A música tema era perfeita, não sei de quem é a composição mas dizia assim: "Voa passarinho lindo, entre os versos do menino, trazendo alegria pro Arraiá, Asa Branca é São João, carcará do meu sertão, de alegria canta o sabiá". Essa música ficou na minha cabeça o tempo inteiro. Além, claro, de muito Luiz Gonzaga, com Asa Branca, Acauã, pássaro carão, etc. A rainha representava o pavão, e saía de dentro de uma gaiola. Enfim, tudo do jeito que gosto, tema explorado do início ao fim, e com perfeição!

ESPINHO E FULÔ 2011 (A saga nordestina na Amazônia)

Ano de glória dessa quadrilha que acertou em cheio em tudo! Tanto que arrebatou festivais importantíssimos como Mossoró e Iguatu. Quem parou para vê-la, teve de baixar a cabeça e admitir que a quadrilha mereceu todos os títulos que recebeu. De início estranhamos a referência aos índios, com o uso de cocares, coreografia de entrada, etc, mas para quem presta atenção tudo é bem explicado. O tema fala basicamente sobre o "exército" de nordestinos que migraram para a Amazônia, destinados ao trabalho nas seringueiras. A sabedoria indígena, aliada à força do nordestino formaram a junção perfeita! A cultura da amazônia, com suas danças e rituais foram bem exploradas. O figurino merece atenção especial, usando muito verde que simboliza a natureza, um pouco de brilho mostrando as riqueza minerais, além do couro, sementes e penas. Perfeito! A quadrilha mostra um ciclo desde o desmatamento, e finaliza com chave de ouro mostrando a esperança do renascimento! repertório também muito adequado! Eu adorei a troca de roupas do marcador, simbolizando cada etapa dessa saga. O cenário foi perfeito. As árvores, os pássaros, tudo conforme o tema!  Mais um trabalho espetacular de Raimundo Claudino, fechando com o sincronismo e coreografia perfeito!

Então é isso, resumi um pouco, mas esse grupos apresentaram trabalhos incríveis, com muita riqueza de detalhes! 

Incluiriam alguma mais?

O que acharam?

E queria fazer um agradecimento especial ao meu amigo Tony que conseguiu muitas das fotos usadas nessa postagem. Arrasou, Tonyyyyyyy!!!!!!

beijos a todos!